1 de abril de 2015

"Meu caro e adorado escritor..."

Como comentei semana passada, adorei ir assisti a uma peça do Festival para escrever uma resenha. Normalmente não gosto de escrever resenhas (as minhas acabem sempre por se tornar clichés), mas me surpreendi com o quanto aproveitei essa atividade. Foi ótimo tanto assistir à peça - atenta a detalhes que poderiam servir, com relação à movimento corporal - quanto escrever o texto.

Gosto de deixar um registro dessas coisinhas escritas que fazemos no meu diário. Sempre as releio quando tenho que escrever a próxima para ver o que posso melhorar. =) Então... Sem mais tardar, eis aqui minha resenha:

Dirigida por Ana Rosa Tezza, a peça teatral "Tchekhov", ganhadora do Troféu Gralha Azul 2014 nas categorias de melhor espetáculo, melhor direção, texto adaptado, figurino e iluminação, se apresentou no Fringe, mostra paralela do Festival de Teatro de Curitiba. Ao assistir a peça, não encontramos um cenário majestoso ou um elenco enorme como os de produções da Broadway, muito pelo contrário. Somos recebidos em um ambiente confortável e intimista, onde encontramos uma das melhores apresentações nesta edição do festival de Curitiba.


Desde a entrada no Espaço Ave Lola, da companhia teatral que encena "Tchekhov", nos deparamos com a diretora, que estava humildemente servindo café aos espectadores. Ao entrar no auditório, que é igualmente simples e sem cerimônia, sentamos nas poltronas e nos inserimos nas "Rússias do Czar Nicolai II", para citar o programa da obra. A peça, escrita pela diretora, é uma combinação intertextual de uma biografia de Anton Tchekhov com "Anuita" e "A Gaivota", respectivamente um conto e uma peça de autoria do Russo. Tezza consegue reunir elementos de ambas estórias em dois atos com maestria, sem uso de grandes tecnologias ou modernidades.

Todos elementos usados em cena adicionam ao espetáculo; as luzes, o cenário, o figurino e a sonoplastia - que é feita ao vivo - dão profundidade a um trabalho espetacular de corpo e voz dos atores. É possivel ver em cena a atenção minusciosa dos atores em relação ao espaço. Ressaltamos a cena em que Nemeróvitch (Marcelo Rodrigues) e Tchekhov (Val Salles) estão pescando e atravessam um rio por cima de pedras; os atores executam um jogo de equilíbrio e desequilíbrio em cima de bancos de diferentes tamanhos para encenar esta travessia. A brincadeira é divertida e bem executada, a exploração dos dois atores não suja a cena, cria uma expectativa na plateia que é quabrada quando Tchekhov cai na água.

Outro exemplo, entre vários, de movimento bem executado é de Liuba, Helena Burmann Tezza. A pequena atriz se utiliza de movimentos leves: todos entram nas categorias de esforço de Laban espanar, pontuar, deslizar e flutuar. A personagem ganha profundidade e cor, pois sua personalidade é explosiva e forte - tanto que nos assustamos quando ela grita "Flores! Flores!" Em suas cenas - e contrasta de forma interessante com seus movimentos. 

É essa atenção aos pequenos detalhes que fazem de "Tchekhov" uma das melhores peças que já vimos. Embora a autora retrate Stanislavski em cena, os atores não são nem um pouco naturalistas. A linha seguida é muito mais para o lado de Meyerhold e Brecht, pelo foco na fisicalidade da atuação e pela metalinguagem empregados. Este paradoxo enriquece e dinamiza as ações no palco, fazendo os dois atos passarem voando.

Esta semana, quem perdeu o espetáculo no festival ainda tem oportunidade de vê-lo em cartaz. Os ingressos estão à venda no Espaço Ave Lola. A peça ocorrerá nos dias 09/04 a 12/04 ás 19:00.