22 de abril de 2015

Avaliação - A da briga dos pais

Como de costume, vou colocar abaixo o roteiro da nossa prova. Começamos com um breve resumo do processo de elaboração da cena e então descrevemos nossas ações. Espero que ele seja auto-explicativo:

Baseados em exercícios de Contato Improvisação que executamos em sala de aula, críamos uma composição dramática sobre relações familiares conturbadas. O Contato Improvisação é uma exploração de movimento realizado por atores ou dançarinos que desenvolvem movimentos corporais a partir de um ponto de contato - com o chão, um objeto, ou outro ator - e com o compartilhamento de peso. O CI nos deu inspiração tanto para a criação de um enredo quanto para a criação de movimento de cena.
Stanislaviski nos diz que temos que ter disciplina, concentração, e estes itens são necessários para o bom desenvolvimento do planejamento das ações de um papel. Depois representá-lo com veracidade, sem usar a atuação mecânica que leva à falta de emoções. Para ele, o essencial é o realismo da ação e o naturalismo, partindo do emocional do ator (a primeiro momento). No entanto, nós percorremos um caminho diferente no processo criativo, mais parecido com aquele que Meyerhold propõe. De acordo com sua teoria da biomecânica, deve haver uma transformação do corpo do ator em ferramenta, como uma marionete a serviço da mente; um pensamento gera movimento, que por sua vez gera emoção e por último a palavra. No nosso caso, partimos de um pensamento/intenção inicial que era explorar o CI, então improvisamos em cima de diversos movimentos que geraram várias sensações e emoções, que então se unificaram e formaram um enredo - embora não fosse a palavra verbalizada. Meyerhold também teoriza a importância do nosso corpo, do desenho do movimento: “os gestos, as atitudes, os olhares, os silêncios estabelecem a verdade das relações humanas; as palavras não dizem tudo. Torna-se necessário, portanto, um desenho de movimentos para situar o espectador na posição de observador perspicaz.” (BONFITTO, 2013, p.41). O grupo, portanto, não se limitou a um texto verbalizado pelo ator, mas focamos em movimentos para melhor transmitissem o enredo elaborado à plateia.
Desenvolvemos a estória de uma familia conturbada, um casal e sua filha, relações conflituosas e extremas. O futebol do marido, a novela da mulher explode em uma discursão: o casal troca tapas, empurrões, e agressões, que contém movimentos de forma direcional - tanto arcados e lineares - e de forma tridimensional. Baseado nas origens do Contato Improvisação, o Aikido, o casal se golpeia, envolvendo e sendo envolvido, desenhando no espaço trajetórias e formas. Como espectadora da situação, a filha do casal tenta primeiro ignorar os acontecimentos e depois decide tomar algum tipo de ação. No entanto, ela é sugada para dentro da briga, para o contato improvisação, e os pais a mandam para o quarto. Em seu cômodo, os problemas emocionais da filha são demonstrado pela composição paradoxal que fizemos pela inversão do fator peso de Laban: nas ações físicas normalmente feitas com leveza, foi utilizado peso; e em outras que são comumente feitas com certa força, foram trabalhadas de forma leve. Depois do suicídio da filha, os pais do desespero da descoberta, usam os movimentos possíveis do CI: deslizar, rolar, empurrar e pivotear. Por fim, eles se apaziguam, encontrando no corpo morto da filha uma oportunidade de se unirem. O seguinte é um roteiro mais detalhado das ações:

FILHA:

Lendo revista <ponto de contato: mão no chão, rolar e deslizar>
Fechar revista  <ponto de contato: mão e cabeça no chão, rolar, deslizar e empurrar>
Entrar no contato improvisação <a partir do pé, movimento distal/sequencial, movimento da coluna>
Andar até parede <movimentos: socar>
Improvisar na parede movimentos de raiva <ponto de contato: mão/cabeça/costas na parede, rolar, pivot, empurar e deslizar>
Entrar no quarto, tirar bota e casaco <composição paradoxal: respiração ofegante mas movimentos leves>
Improvisar com o fouet <composição paradoxal movimentos sombrios com um objeto cotidiano>
Se matar <movimento socar + vocalização>
Improvisar no chão movimentos de dor/angústia <ponto de contato: mão e pé no chão, rolar, pivot, puxar e deslizar>
Morrer e oferecer resistência para os demais.

PAI:
Chega em casa e deixa pasta na entrada< ponto de contato: pés no chão, pivotear>
Encara a esposa <inflar e desinflar, esquerda direita>
Passa a mão na tv < deslizar>
Desliga a tv < pivotear no botão da tv>
Discussão e agressão fisica com a mãe < improvisão de contato >
Filha entra na briga < continuação contato improvisação >
Manda filha para o quarto < forma direcional linear >
Pai e mãe vão atrás da filha e batem na porta <contato de improvisação, pivotear, deslizar, puxar e empúrrar >

MÃE:
Assistindo tv, deitada no sofá < ponto de contato: deslizando os pés no chão>
Levanta < ponto de contato:empurra o marido da frente da tv.>
Agressões  físicas com o marido<forma direcional arcada> contato improvisação>
Movimentos tridimensionais.

Referências Bibliográficas

BONFITTO, Matteo. “O Ator-Compositor.” 3. ed. São Paulo: Perspectiva, 2013.

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