13 de outubro de 2015

Os Criadores da Dança Moderna

Gostei muito da leitura que fizemos sobre dança moderna. Acho que das bailarina que lemos, a que eu mais me identifico é a Doris Humphrey, por seus movimentos swingados, levados pela gravidade. Justamente, acho que devo explorar e trabalhar mais as explorações de Martha Graham.

A seguir coloco minha síntese da leitura para arquivar no diário. =)


GARAUDY, Roger. Os criadores da dança moderna. In: Dançar a vida. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1980. Cap. 3, p. 87-131. 

 O surgimento da dança moderna se dá por etapas. Temos como pioneiros Isadora Duncan, que estabelece uma negação do balé clássico; Ruth Saint-Denis, que recusa da concepção individualista do teatro e cria uma arte litúrgica; e Ted Shawn, que trabalhou em conjunto com Saint-Denis, além de desenvolver a dança masculina. 

 Martha Graham se pôs em oposição às bailarinas antecessoras, pois colocou o foco do corpo do dançarino não na natureza, mas no seu corpo em si. Ela não procura representar os ritos das diversas etnias, mas explora os problemas contemporâneos da sociedade. Após ter saído da I Guerra Mundial, os Estados Unidos entra na Grande Depressão de 1929, que influencia a criação muitas as obras artísticas da época. No balé Frontiers (1935), Graham trabalha a expansão territorial dos Estados Unidos pela justaposição do corpo no espaço. Em Apalachian Spring (1944), vemos por meio de movimentos bruscos, paradas repentinas e explosões alegres seu desejo de libertar o americano da "prisão do puritanismo" e da "escravidão industrial". Utilizou-se também da Revolução Espanhola como inspiração para o solo Deep Song (1937). Ela busca emocionar, através de uma sensibilidade e linguagem inéditas, os espectadores contemporâneos ao representar "mitos da trajetória humana". Ela se coloca, portanto, como bailarina e dramaturga, unindo a dança ao teatro, propondo cenas projetivas ao invés de imitativas. Sua nova técnica é baseada nos fundamentos: (1) da respiração e sua ligação com movimentos do tronco, com um ponto de apoio na região pélvica; (2) de dinamizar os atos através de contrações e relaxamentos no corpo, que se dão como impulsos bruscos, convulsivos e projeções violentas em sincronia com percussão; (3) de se relacionar com o chão, propondo uma dança sem o uso de calçados; e (4) de totalidade, utilizando o corpo como instrumento inteiro e coordenado. 

 Mary Wigman, assim como Graham, retrata através da dança o seu contexto sociohistórico. Refletindo o sentimento de Lebensraum, "espaço vital", de uma Alemanha que estava se recuperando da Primeira Guerra, Wigman trabalha com o fôlego em relação a um espaço sufocante. Ela traz a reunião das forças internas do homem resistindo contra forças exteriores, trabalhando com o imprevisto em vez da continuidade. Sua relação próxima ao expressionismo pode ser percebida em sua preferência por demonstrar emoção ao invés de criar estrutura, forma e harmonia. A coreógrafa buscava "dar forma ao caos", diferentemente da dança clássica que compunha de uma arsenal de movimentos já codificados. Passou muito tempo estudando a relação entre dança e música e propunha que ambas deviam ser criadas em conjunto, numa "colaboração criadora". 

 Rudolf von Laban, que trabalhou em conjunto com Wigman, buscou identificar a relação entre as emoções e os movimentos do corpo. Definia o movimento como "uma manifestação exterior de um sentimento interior", botando ênfase nas motivações e decisões tomadas por aqueles realizando o movimento - seja no teatro ou na dança. Laban estudou a "poesia do movimento" e as leis deste, comparando-as com o trabalho proveniente da Revolução Industrial e seus ritmos. Para ele, os bailarinos devem buscar construir uma arquitetura no espaço que reflita os significados internos, ao invés de um "código de beleza" pré-estabelecido como no balé. Suas descobertas incluem a orientação harmoniosa no espaço, utilizando ritmo, proporção e perspectiva. O coreógrafo definia e descrevia movimentos através de quatro parâmetros: (1) parte do corpo; (2) direcionamento espacial; (3) velocidade de execução; e (4) grau de intensidade utilizado. Laban mostrava interesse na dança “coral”, classificando os dançarinos em um espectro baseado em suas habilidades de salto e sua relação com o chão - ao mesmo tempo os relacionando com uma emoção. 

 Doris Humphrey partia do pressuposto de que todo dançarino precisa ter uma motivação, uma mensagem a ser comunicada com o espectador, para não criar uma coreografia medíocre, vazia. A dança deve refletir e penetrar na sua cultura. Analisando seu próprio contexto americano, das grandes metrópoles, ele propunha um dinamismo em sua obra que buscava não só transpor uma civilização para movimentos, mas que contribuísse para sua humanização. Ela categoriza os gestos como (1) sociais, que expressam a relação entre os homens; (2) funcionais, aqueles relativos ao trabalho; (3) rituais, exprimem a relação do homem com o sobrenatural; ou (4) emocionais, que são gerados espontaneamente pelos nossos sentimento, considerados os mais importantes para o bailarino. Ela tem como ritmo fundamental o ritmo motor, formado na relação entre corpo e espaço, e tem como movimento primordial o resistir à gravidade - que se desdobra nas diversas tensões entre o homem e o mundo que lhe oferece resistências. A coreógrafa baseia grande parte de seus movimentos no cair e se recompor, variação da tensão e relaxamento de Graham. Ela considera a função da gravidade central na composição de um movimento pois ela dita, em conjunto com seu uso consciente por parte do bailarino, o ritmo a ser desempenhado. Humphrey também brinca com a justaposição entre os princípios do equilíbrio apolíneo e o fervor dionisíaco de Nietzsche na dança. Ela analisa o dinamismo e o desenho, suas qualidades e efeitos no espectador. 

 A evolução da dança moderna permitiu que esta arte deixasse de ser apenas um entretenimento para servir como um meio educativo, para que ambos bailarino e espectador pudessem se enxergar melhor em relação ao seu contexto e seu poder de ação. A dança moderna trouxe ao homem controle sobre aquilo que a modernidade e a tecnologia não conseguiram: si próprio.

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